segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Trabalho de QC


Overdose americana

       “Qualquer semelhança é mera conseqüência”. Desta forma, a campinense formada em Ciências Sociais pela PUC, hoje professora e coordenadora de Ensino Técnico do CEETEPS, Júlia Falivene Alves, introduz seu livro “A invasão cultural norte-americana”, referindo-se ao colonialismo cultural sofrido pelo Brasil desde sua formação, e os conseqüentes prejuízos tão camuflados inclusive nos dias de hoje.

       A escritora, então, descreve a vida de um jovem comum da classe média urbana, comparando-a com a vida de todos os brasileiros, cujos hábitos, incluindo os mais insignificantes deles, comportam de certa forma alguma influência norte- americana. Observe, portanto, sua própria rotina, caro leitor. Afinal, não seria um programa legal tomar uma gelada coca-cola enquanto assiste a um filme de Spielberg; vestir um jeans, calçar um moderno tennis e fazer compras num shopping Center ou, então, ouvir um rock enquanto se diverte com seu videogame e bebe um gelado drink?

       Estas evidências do imperialismo cultural norte- americano encontram suas raízes num tempo denominado “sempre”, desde que os EUA se entendem como gente, ou melhor, como nação. Mas foi no século XX que esta potência praticou, de forma mais significativa, seus planejamentos de formação de um império. Sutilmente declarou que fora o próprio destino o autor de sua política de ação, política de interferência internacional. E assim, o presidente Theodere Roosevelt pode revelar suas intenções, baseadas em oferecer a estabilidade “alheia”.

      À busca por tais intenções, deram o nome Pan Americanismo, política através da qual o país alcançaria a extrema supremacia. A força e a tática foram o importante instrumento usado pelos EUA para, estrategicamente, influenciar a vida de seus vizinhos. O famoso Big Stick, a partir do uso da força, é um exemplo. Assim como o Birô de Franklin Roosevelt, em que Estados Unidos aplicava seus próprios recursos em diversos setores dos países latino-americanos.
       Preocupados com as copas do mundo, secas, enchentes, novelas e canções, o brasileiro, em especial, teve uma ínfima porcentagem de sua população percebendo no que estava se transformando. Afinal, o que antes era a simples ‘missão salvadora de conduzir as nações vizinhas à paz e ao progresso’, tornaria-se uma compulsiva disseminação cultural, levando de mais um país a identidade nacional.

       Mas já era tarde. Toda a bagagem moral, padrões estéticos, e tendências práticas, geradas no útero do território brasileiro, já haviam sido destruídas e substituídas por outros valores. Valores baseados em realidade e necessidade completamente diferentes daqui. Agora, o produto importado supera o nacional, o imigrante rouba sua vaga de emprego, não se sabe mais o que vem de fora, e os States realizam o tão almejado sonho de se impor sobre cada habitante da América.

       Não obstante, o Brasil continua a se prejudicar. “ Como em geral a tecnologia produzida no exterior está voltada para a poupança de mão- de- obra, ela tem trazido ao país também o desemprego, o subdesemprego, o rebaixamento de salários, o subconsumo e conseqüentemente grandes problemas econômicos e conflitos sociais” (p. 55). Incluindo dívida externa, concentração de renda e grande dependência econômica.
  
       Apesar da excepcional escrita e inteligente progressão, Júlia Falivene Alves falhou em seus argumentos. A professora focou de forma tão intensa o prejuízo do desejo de se parecer com uma potência, que desprezou o fato da influência externa ter agido como atalho para o Brasil chegar à modernidade. Principalmente quando se trata de um país tão usado e prejudicado como ele. Onde estaríamos sem a invasão cultural? Impossível saber. Ela é indiscutivelmente necessária.

       Entretanto, já é hora do Brasil tomar seu rumo, deixar de ser uma simples marionete, controlar o domínio estrangeiro, preservar sua cultura e colocar um The End nessa overdose americana.(60)

Alves, Júlia Falivene. A invasão cultural norte- americana. São Paulo: Moderna, 2001.p 11-102 ; p. 135-143.

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